Ford vs Ferrari

“Com ótimas atuações de Matt Damon e Christian Bale, novo filme de James Mangold demonstra toda a emoção, paixão e o risco existente no automobilismo”

Por Luís Gustavo Fonseca

Não é todo dia que um filme focado em competição automobilística chega às telas do cinema. Sobretudo, uma produção que consegue colocar o espectador, de fato, dentro de um cockpit e transmitir toda a velocidade existe na prática. Nesta década, tivemos o ótimo “Rush – No Limite da Emoção“, que representou a épica rivalidade entre James Hunt e Nick Lauda na Fórmula 1 na década de 70. E, apesar de não ser focado em corrida, também os ótimos Mad Max: Estrada da Fúria” e “Em Ritmo de Fuga“, certeiros na representação da beleza – e dos perigos – da velocidade. Agora, “Ford vs Ferrari” chega para se juntar a este grupo.

Baseado em fatos, a trama acompanha o diretor de marketing da Ford, Lee Iacocca (John Bernthal), que se vê pressionado pelo dono da montadora, Henry Ford II (Tracy Letts), a aumentar o número de vendas da Ford. Como forma de recuperar a reputação dela, ele convence Henry a fazer com que a Ford dispute a tradicional corrida de 24 horas de Le Mans, dominada no início dos anos 60 pelos carros da Ferrari.

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Uma vez que a Ford não tem experiência alguma nesse tipo de corrida, Bernthal resolve recorrer a Carroll Shelby (Matt Damon), o único norte-americano que já havia vencido a corrida. Shelby, que se afastou das pistas depois de detectar um problema no coração, agora atua como um vendedor de carros. Responsável por comandar a equipe que irá desenvolver o carro para disputar a prova, ele tem em mente o piloto perfeito para competir a corrida: o veloz, mas de temperamento difícil, Ken Miles (Christian Bale).

Projetado para disputar prêmios como Oscar, “Ford vs Ferrari” segue uma tradicional fórmula de produções que se baseiam em fatos. Mesmo que você não conheça a história, o roteiro segue um padrão muito claro, sendo possível prever os desdobramentos que irão ocorrer. A solução do conflito aparenta ser simples em um primeiro momento, mas é claro que haverá algum imprevisto que causará uma reviravolta para os protagonistas. Diante deste novo cenário, eles deverão resolver as diferenças e enfrentar um desafio que se mostra quase impossível de ser superado.

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A opção por este caminho mais seguro, algo que se reflete até na edição do filme, completamente linear, não chega a ser um ponto negativo do roteiro. Isso porque ele sabe trabalhar seus protagonistas, fazendo com que eles sejam desenvolvidos de uma forma que o espectador se importe com eles. As personalidades distintas de Shelby e Miles se complementam, com um ajudando o outro a mudar sua perspectiva pessoal de vida e se tornar alguém melhor.

Os dramas pessoais de cada um também ganham espaço no texto. Fica bem claro como Shelby sente falta de pilotar em alta velocidade, sendo que ele encontra a paz justamente ao ouvir o som do motor do seu carro. Ele não é um homem de negócios por natureza, mas sim porque sua condição de saúde o obriga a ser. E é por entender como a cabeça de um piloto funciona que ele compreende as vontades, os receios e a opinião de Miles.

O trabalho em torno de Ken permite mostrar o quão humano e multifacetado é a pessoa vivida por Bale. Apesar do temperamento explosivo e do tom por vezes agressivo, o roteiro também dá espaço para mostrá-lo como alguém que ama e se importa com seu filho, Peter (Noah Jupter), e a esposa, Mollie (Caitriona Balfe). E mostrar esse lado, dele mais brincalhão e passional, transforma-o em um grande protagonista. Existe um carisma inerente ao piloto, que consegue conquistar o telespectador com facilidade.

O ingrediente final que faz essa dupla funcionar são as atuações de Damon e Bale, que se destacam das demais e dominam o filme. Assim como as pessoas que eles dão vida, são trabalhos que se complementam. O primeiro por conseguir transmitir a sensação de insegurança que existe em Shelby, mesmo com ele se portando como alguém confiante e determinado. Enquanto Bale domina a cena com um trabalho cativante, que explora diferentes emoções e que consegue trazer para a tela toda a profundidade existente no piloto.

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Esse investimento nos personagens ajuda a tornar o ritmo da obra ágil e bem agradável, sendo que mal se nota as 2h20 de produção. E algo que reforça essa sensação é a direção de James Mangold (“Logan“). Com uma pegada imersiva, que traz o público para dentro da tela – e que fica ainda mais bonito graças a bela fotografia do filme -, ele constrói sequências de corrida e ação que dão uma dimensão dos riscos enfrentados pelos pilotos.

E esse talvez seja o grande mérito de seu trabalho. Muito se enxerga o automobilismo como apenas o luxo das conquistas, mas esquece-se que também é um esporte de extremo risco, no qual o menor erro pode ser fatal. As perseguições e os embates acirrados comandados por Mangold mostram muito bem como esse risco está lá, fazendo com que você fique na ponta da cadeira durante as ultrapassagens. Tudo isso embalado pelo potente (e devo dizer, agradável) rugido dos motores.

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Mais do que um bom filme com duas grandes atuações, “Ford vs Ferrari” funciona como uma bela homenagem a paixão e a emoção que existe no automobilismo, e conquista o coração de muita gente. A produção consegue ser cativante e chamar a atenção mesmo daqueles que não acompanham o esporte ou que não saibam sobre a história. Ao conseguir atingir esses dois públicos, o filme mostra que cumpriu seu objetivo.

Nota: 8/10.

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